Ensaio sobre o imaginário
Nilo Dias de Oliveira
“(...) ponto do espírito, onde a vida e a morte, o real e o imaginário, o passado e o futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo deixam de ser percebidos contraditoriamente”.Manifesto do Surrealismo.
O tema do imaginário tem se apresentado como uma das tendências de análise histórica mais procurados pelos historiadores nesse final de século, face ao declínio dos esquemas teóricos explicativos da nossa realidade e a chamada “crise dos paradigmas” no âmbito das ciências sociais. Os pesquisadores buscam o ecletismo e uma postura cada vez mais relativista sobre a sociedade. Esse movimento se dá pelo desencanto com a rigidez e o economicismo de um marxismo ortodoxo como também as velhas concepções positivistas de uma história factual.
No decorrer dos anos 80, a história social desembocou na chamada “nova história cultural”, que passou a lidar com novos objetos de estudo: mentalidades, valores, crenças, mitos, representações coletivas traduzidas na arte, literatura, formas institucionais. Desta forma, não é por acaso que o realce assumido pelo imaginário enquanto objeto de preocupação temática e investigação tenham crescido justamente no momento em que as certezas do processo científico não se apresentam como capazes de dar conta da complexidade do real.
Dentro dessa perspectiva alguns autores definem o imaginário como algo mais amplo que a ideologia por integrar o que não está formulado, o que permanece aparentemente como não significante o que se conserva muito encoberto ao nível das motivações inconscientes. Mas imagens e discurso sobre o real não são exatamente o real ou, em outras palavras, não são expressões literais da realidade, como afirma Bourdieu, “as representações mentais envolvem atos de apreciação, conhecimentos e reconhecimentos e constituem um campo onde os agentes sociais investem seus interesses e sua bagagem