Ensaio sobre a relação epistemológica entre probabilidade e método científico
A ciência clássica, cujo paradigma é a mecânica newtoniana, buscava leis naturais, imutáveis, eternas. Umuniverso perfeito no qual a imprevisibilidade e, portanto, a existência do acaso seriam frutos dos limites do homem. A evolução de sistemas aparentemente imprevisíveis poderia ser calculada pelainteligência ilimitada do Deus de Laplace. A desordem é mera aparência. O acaso e a probabilidade destinam-se, então, a dissimular a ignorância.
A teoria da probabilidade, no entanto, é relativamenterecente. Há diversas formas de enumerar as condições históricas do desenvolvimento do cálculo de probabilidades. Evidentemente, este se deu em contexto complexo que não deve ser simplificado em um únicoevento. Entretanto, achamos curiosa e digna de nota a proposição de Du Pasquier (1926) de que o impulso ao desenvolvimento dos estudos sobre a probabilidade parece ter se devido, entre outrascoisas, ao fato de a aristocracia européia, sobretudo nos países católicos, ocupar grande parte do seu tempo nos jogos de azar. O primeiro registro de um estudo desse tipo é do século XVII, anterior a 1642(Du Pasquier, 1926). É um trabalho de Galileu intitulado Considerazione sopra il Giuoco dei Dadi, encomendado por um nobre italiano. O problema era: um jogador lança três dados; se a soma é superiora dez, ele ganha; se a soma é igual ou inferior a dez, ele perde. E as perguntas: quais as chances de ganhar ou perder e quais as combinações mais prováveis. Alguns anos mais tarde, Pascal recebe deum aristocrata francês, Chevalier de Mére, uma solicitação semelhante. Uma partida de dados envolvendo dois jogadores, com o máximo de cinco lances, deverá cessar quando um deles completar trêspontos. O prêmio para o vencedor é de 16 francos. Se a partida precisa ser interrompida antes de haver um vencedor, como dividir o prêmio? Pascal envia a Fermat o enunciado do problema e ambos