Eficácia simbólica
O objetivo do canto e ajudar num parto difícil que é quando Muu, espírito responsável pela formação do feto na cultura dos Cuna, ultrapassa suas atribuições e se apodera da purba ou alma da futura mãe. O canto consiste na busca da purba perdida, que é restaurado após inúmeras peripécias como: demolição de obstáculos, vitória sobre animais ferozes e por fim o torneio entre os espíritos protetores do xamã e Muu e suas filhas (com a ajuda de chapéus mágicos que elas não conseguem suportar o peso).
Quando Muu é vencida e liberta a purba da mãe doente, o canto termina quando se tem manifestação das precauções tomadas para que Muu não possa desaparecer de seus visitantes (as mulheres grávidas). O combate não é feito contra Muu porque seu espírito é indispensável para a procriação na aldeia, mas o combate é feito contra seus abusos; uma vez que estes são absolvidos, as relações se tornam amistosas, e a despedida de Muu ao xamã compara-se a um convite.
O xamã procura ajuda dos nuchu, que são seus espíritos protetores encarnados em figuras de madeira esculpidas por ele, as figuras ganham niga (vitalidade), que fazem deles nelegan (seres a imagem do homem), mas com poderes excepcionais. O xamã assistido por seus espíritos protetores, empreendem uma viagem ao mundo sobrenatural para arrancar o espírito maligno que está na parturiente e devolve-lo ao seu proprietário (feto) assegurando a cura.
Para os indígenas o nosso organismo é composto por várias almas, que correspondem cada um de nossos órgãos, e Muu como um fator de desordem, uma “alma” especial que capturou e paralisou as outras “almas” especiais, e destruiu assim a cooperação que garantia a integridade do “corpo principal”, pois é de onde ele tirava seu niga (vitalidade). Muu não é especialmente uma força má, é uma força transviada. O parto difícil se explica como um desvio da “alma” do útero para as outras “almas” diferentes do ao longo do corpo. A ideologia indígena traça um esboço do conteúdo afetivo da