A Eficácia simbólica
O primeiro grande texto mágico-religioso conhecido, proveniente de cultura sul-americana lança uma nova luz sobre certos aspectos da cultura xamanística. Trata-se de um longo encantamento, cuja versão indígena tem 18 páginas. O objecto do canto é ajudar num parto difícil. Não deveria ser utilizado muitas vezes. A intervenção do xamã é rara e só se realiza a pedido da parteira. O canto começa com a visita desta última ao xamã, a partida deste, a sua chegada e os preparativos (fumigações de favas de cacau queimadas, invocação e confecção de imagens sagradas ou muchu). As imagens dos muchu representam os espíritos protectores (encarnam nas figuras esculpidas pelo xamã), que o xamã torna seus assistentes, e dos quais toma a direcção para os conduzir a Muu, potência responsável pela formação do feto. O parto difícil explica-se porque Muuu ultrapassou as suas atribuições e se apoderou do purba ou “alma” da futura mãe. O canto consiste inteiramente numa busca: a busca do purba perdido. Depois de uma luta e de vencer Muu, esta deixa descobrir e libertar o purba da doente; o parto dá-se e o canto termina com as precauções tomadas. O termo xamã pode parecer inapropriado, já que a cura não parece exigir, um êxtase ou uma passagem a um segundo estado. Contudo, a fumaça do cacau tem por primeiro objectivo “fortificar as suas roupas” e de “o fortificar”, “de o tornar mais forte para enfrentar Muu”. O canto parece ser um modelo bastante banal: o doente sofre porque perdeu o seu duplo espiritual; o xamã empreende uma viagem ao mundo sobrenatural para arrancar o duplo do espírito maligno que o capturou. Mu-Igala, isto é “o caminho de Muu” e a morada de Muu não são um itinerário e uma morada míticos, representam literalmente a vagina e o útero da mulher grávida. Para atingir Muu, o xamã e os seus assistentes devem seguir uma rota. O parto