Duas faces da mesma moeda
Liberalismo e escravismo em coexistência no Brasil
Glauber Luís Monteiro Sousa*
A modernidade elaborou um novo modo de pensar a liberdade, como vistas a combater as estruturas do Antigo Regime, expressas na Monarquia Absoluta. Esse novo modelo de liberdade, segundo Benjamim Constant, é a busca de segurança das funções privadas, chamadas de liberdade das garantias concedidas pelas instituições do governo a essas funções; é, também, ter poder de intervir na administração do governo, seja pela via da nomeação de funcionários, seja mediante a representação, considerando-se ilegítimo todo governo que não defenda ou ataque esses princípios (CONSTANT, 1985)
Nesse sentido, buscaremos, nas linhas a seguir, desenhar um panorama das relações conflituosas entre liberalismo e escravidão, mas tendo uma vista que tal assunto é muito denso para ser abordado em poucas páginas e sabendo que ainda é muito superficial nosso conhecimento sobre esse objeto de estudo. Assim, limitaremo-nos apenas a levantar alguns questionamentos sobre o mesmo.
Desta forma, tentaremos apresentar, mesmo que de forma superficial, um desenho sobre o conceito de liberalismo no Brasil e a coexistência de um pensamento liberal em uma sociedade escravocrata, procurando responder à seguinte questão: por que uma sociedade que busca constituir seu aparato estatal inspirado no modelo liberal consegue conviver com um modo de produção e uma formação social escravista?
Pensando um conceito de liberalismo no Brasil.
Para discutir acerca de um conceito de liberalismo no Brasil, é necessário levar em conta alguns fatores que diferenciam a colonização brasileira daquela de outros países da
América Ibérica. O primeiro fator é a proibição da existência de tipografias em território brasileiro, o que influi na questão de não haver circulação de jornais e ou livros impressos, por isso os leitores direcionavam-se para as obras produzidas na Europa. O segundo fator é a