Dos elos entre crime e castigo e memórias do subsolo
Acerca dos personagens Raskólnikov e (...)
Dostoievski desenvolve sua literatura a partir da análise da sociedade moderna, fundamentada na razão iluminista e no liberalismo político. A sociedade burguesa em ascensão apresenta inúmeras contradições que serão o fruto de toda uma produção literária complexa e ambígua. Tanto as similaridades de seus livros, quanto suas discrepâncias, encontram-se fundamentada nessa realidade do século XVIII e XIX. Pode-se igualmente, traçar um paralelo em suas obras a partir de doutrinas filosóficas. A exemplo disso tem-se a filosofia hegeliana e nietzschiniana que serão essenciais em seu trabalho.
“Memórias do Subsolo” e “Crime e Castigo” são duas obras que terão como elo, justamente, o existencialismo – explorado e trabalhado por Nietzsche- e a antítese – princípio das idéias de Friedrich Hegel – criando, dessa forma, as diferentes relações leitor-herói, herói- autor, sujeito-objeto e o antagonismo entre desejo e culpa, demência e razão, e determinismos materiais versus a tentativa de ultrapassá-los espiritual e socialmente. Concomitantemente a esse processo, está o trabalho com as acepções do ser humano em volta de qualquer utopia moral, política ou religiosa.
Mickail Bakhtin cita Dostoievski em dois livros distintos: Problemas da Poética de Dostoievski, no qual analisa a ideologia por trás das obras e na estrutura de seus diálogos; e Estética da Criação Verbal, em que trabalhará com a constituição do herói pelo autor.
No primeiro, Bakhtin declara o tipo de romance feito por Dostoievski, fundamentado nas ideologias, aquele em que as personagens encarnam princípios e concepções de mundo, sem perder a peculiaridade de seu comportamento. Essas personagens são polifônicas, multidimensionais, apresentam uma multiplicidade de vozes, um dialogismo. Não existe uma só consciência, mas sim uma coexistência de várias num diálogo constante dentro do ser que passa por uma profunda