Diálogos - Gilles Deleuze
DIÁLOGOS
Gilles Deleuze
Claire Parnet
Trad. Eloisa Araújo Ribeiro, São Paulo: Escuta, 1998, 184p.
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DIGITALIZAÇÃO:
NÃO IDENTIFICADA
DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO:
Gilles Deleuze
Claire Parnet
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editora escuta
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[09]Φ
Uma Conversa,
O Que é,
Para Que Serve?
I
É difícil "se explicar" – uma entrevista, um diálogo, uma conversa. A maior parte do tempo, quando me colocam uma questão, mesmo que ela me interesse, percebo que não tenho estritamente nada a dizer. As questões são fabricadas, como outra coisa qualquer. Se não deixam que você fabrique suas questões, com elementos vindos de toda parte, de qualquer lugar, se as colocam a você, não tem muito o que dizer. A arte de construir um problema é muito importante: inventa-se um problema, uma posição de problema, antes de se encontrar a solução. Nada disso acontece em uma entrevista, em uma conversa, em uma discussão. Nem mesmo a reflexão de uma, duas ou mais pessoas basta. E muito menos a reflexão. Com as objeções é ainda pior.
Cada vez que me fazem uma objeção, tenho vontade de dizer: "Está certo, está certo, passemos a outra coisa." As objeções nunca levaram a nada. O mesmo acontece quando me colocam uma questão geral. O objetivo não é responder a questões, é sair delas. Muitas pessoas pensam que somente repisando a questão é que se pode sair delas. "O que há com a filosofia? Ela está morta? Vai ser superada?" É muito desagradável. Sempre se voltará à questão para se conseguir sair dela. Mas sair nunca acontece dessa maneira.
O movimento acontece sempre nas costas do pensador, ou no momento em que ele pisca. Já se saiu, ou então nunca se sairá. As questões estão, em geral, voltadas para um futuro (ou um passado). O futuro das [10] mulheres, o futuro da revolução, o futuro da filosofia etc. Mas durante esse tempo, enquanto se gira em torno de tais questões, há devires que operam em silêncio, que são quase imperceptíveis. Pensa-se demais