Desterritorialização
Introdução:
Deleuze desde que começou a escrever de forma mais livre passou a dar grande importância às manifestações artísticas. Em Diferença e repetição considera que o conceito filosófico de repetição pode ser encontrado de forma clara na literatura. Em Diálogos dedica grande parte do livro ao conceito da desterritorialização, do devir e de que forma esses conceitos estão presentes em algumas obras literárias.
Deleuze mostra que a literatura existe como algo não delimitado, com constantes rupturas e linhas de fuga. A escrita é um processo interminável, escrever é devir, é encontrar a zona de vizinhança entre dois reinos. A literatura só pode começar com a morte do eu e com a descoberta do impessoal. Além disso, para o filósofo os personagens não são sujeitos, mas blocos de sensações, individuação sem sujeito, os personagens são intensidades, afetos, potências.
Nossa intenção é expor os pontos de convergência entre o livro Os passos perdidos de Alejo Carpentier e o conceito filosófico de repetição de Gilles Deleuze, assim como o conceito de desterritorialização. Veremos como a repetição e o deslocamento serão importantes para que o narrador de Os passos perdidos comece uma desterritorialização, a qual passará pelo desejo de desorganizar o próprio corpo e atravessará toda a estrutura narrativa. A desterrritorialização
A repetição que observamos logo nas primeiras páginas de Os passos perdidos figura uma repetição corriqueira, que não traz nada de novo aos personagens, ao contrário, enclausura-os em um mundo caótico e sufocante, no qual só retorna o mesmo. Segundo Deleuze: “Nossa vida moderna é tal que, encontrando-nos diante das repetições mais mecânicas, mais estereotipadas, fora de nós e em nós, não cessamos de extrair delas pequenas diferenças, variantes e modificações.” (DELEUZE, 1988, p.16)
Apesar das repetições mecânicas serem capazes de engendrar uma repetição singular,