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COMENTÁRIOS DE PIAGET SOBRE AS OBSERVAÇÕES CRÍTICAS DE
VYGOTSKY CONCERNENTES A DUAS OBRAS: "A LINGUAGEM E
O PENSAMENTO DA CRIANÇA" e "O RACIOCÍNIO DA CRIANÇA'"
Não é sem tristeza que um autor descobre, 25 anos após sua publicação, a obra de um colega, morto nesse ínterim, quando ela contém, para ele, tantos pontos de interesse imediato, os quais teria podido discutir pessoalmente e detalhadamente. Embora o meu amigo A.
Luria me tivesse informado sobre a posição simpatizante, ainda que crítica, de Vygotsky a respeito do meu trabalho, não pude jamais ler os seus escritos ou encontrar-me com ele pessoalmente; ao ler o seu livro hoje, isto me desagrada profundamente, porque poderíamos ter-nos entendido sobre muitos pontos.
E. Hanfmann, uma das mais fiéis discípulas de Vygotsky, pediu-me gentilmente para comentar as considerações deste eminente psicólogo a propósito do meu primeiro trabalho. Desejaria agradecer-lhe, mas ao mesmo tempo confessar-lhe o meu embaraço porque, enquanto o livro de Vygotsky data de 1934, os meus, por ele discutidos, remontam a 1923 e 1924. Pensando como teria podido desenvolver esta discussão retrospectivamente, encontrei uma solução ao mesmo tempo simples e instrutiva (pelo menos para mim): procurar ver se as críticas de Vygotsky são ou não justificadas à luz dos meus mais recentes trabalhos. A resposta é, ao mesmo tempo, sim e não.
Sobre alguns pontos concordo hoje com Vygotsky mais do que o teria feito em 1934, enquanto sobre outros pontos penso que poderia encontrar, agora, melhores argumentos para responder-lhe.
I
Começaremos com duas questões distintas levantadas no livro de
* Apêndice da edição italiana de: VYGOTSKY, L S. Pensiero e linguaggio Firenze: Giunti, 1966 Traduzido por Agnela da Silva Giusta.
A edição portuguesa de Pensamento e Linguagem (Lisboa: Antídoto, 1979) e a edição brasileira (São Paulo: Martins Fontes, 1987) não incluem o referido apêndice.
Em A b e r t o , Brasília, ano 9, n.