Did Tica Da Hist Ria
Luis Fernando Cerri
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O fenômeno social do ensino de História surge no contexto da construção deliberada de identidade nacional, durante o processo de construção da soberania popular, em detrimento da soberania real. Mesmo no caso do Brasil, em que a História pesquisada e ensinada se constitui no seio do
Império, é da produção de brasileiros que se trata, ligados ao poder do monarca na medida em que ele expressa a própria nação. Numa monarquia constitucional, a História não deixa de ser o produto liberal e iluminista, a exemplo do que se passa em alguns países europeus do século XIX. Esta marca de nascença da sociedade em que primeiro se inseriu vai caracterizar, em maior ou menor grau, o ensino de História até a atualidade. Com um pouco mais de pesquisa e de
História comparada pode-se dizer que o ensino de História não é um fato homogêneo e de igual significado nos diferentes países em que se insere. No Brasil, o surgimento em uma sociedade escravista e aristocrática criará uma espécie de
“código genético” dificilmente combatido ao longo de tantos anos: esse código - que poderíamos chamar, junto com
Cuesta Fernandez 2 - de código disciplinar, é caracterizado,
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Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professor do
Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UEPG.
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Citado por Amézola, que descreve o conceito de código disciplinar como “o conjunto de ideias, valores, suposições, regulamentações e rotinas práticas, de caráter expresso e tácito) que se traduzem em discursos legitimadores e linguagens públicas sobre o valor educativo da História, e que orientam a prática profissional dos docentes. Em suma, o elenco de ideias, discursos e práticas dominantes no ensino de História dentro do marco escolar.” (AMÉZOLA, Gonzalo Álvaro. Esquizohistoria. La Historia que se enseña en la escuela, la que preocupa a los histo-
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Revista de História Regional