Desejo de aprender
O DESEJO DE APRENDER: UMA VISÃO PSICANALÍTICA DA EDUCAÇÃO
Flávio Corrêa Pinto Bastos1 A vontade do educador de nada querer saber dá origem aos seus esforços para reprimir as manifestações do desejo da criança (MILLOT, 1987, p. 50).
RESUMO: O presente artigo discorre acerca da possibilidade do conhecimento psicanalítico ser aplicado à prática educacional, levantando as impossibilidades que um saber sobre o inconsciente enfrenta face à pedagogia que lida com o aprendizado do indivíduo. A psicanálise vai mostrar a natureza diversa desses ramos do conhecimento que têm objetivos incompatíveis: um trabalha pelo, enquanto o outro, contra o recalque.
PALAVRAS-CHAVE: psicanálise; educação; pedagogia; aprendizagem; recalque; sublimação; desejo de aprender.
Na visão que Freud apresenta em Conferências Introdutórias à Psicanálise de 1917, é objetivo da educação reprimir, inibir e proibir impulsos considerados pelo Supereu como imorais, porém, uma repressão sem medidas teria como efeitos colaterais o aparecimento de neuroses que poderiam ser evitadas, esperava Freud, com uma educação mais branda. A educação deveria encontrar, assim, um equilíbrio entre proibição e permissão. Millot (1987, p.11) nos lembra que para Freud, a ontogênese apenas repete a história filogenética da humanidade, sendo papel, portanto, da educação “fazer com que a criança torne a passar pela evolução que conduziu a humanidade à civilização”. Por conseguinte, de uma visão inicial de que a educação poderia servir como medida profilática ao surgimento da neurose, deixando de ser uma de suas principais causadoras, Freud passa a compreender a educação como uma expressão da história filogenética dos homens, tendo um importante papel ao localizar o indivíduo enquanto sujeito, a quem o recalque permite viver em sociedade. A psicanálise traz à reflexão a questão do que é ensinar e o que é aprender, e mostra que a relação entre o professor e o aluno, uma relação transferencial, estaria no cerne