Delfim
O Delfim
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«Alongando o braço para alcançar os cigarros e a boquilha, Maria das Mercês fica estirada ao comprido. Não se mexe durante muito tempo, é capaz de se manter assim uma eternidade. Deitada e de pernas penduradas no braço do maple, está voltada para as traves do tecto onde se reflecte o brilho da lareira.(...) As mãos repousam sobre o vinco do slip. Ali, junto desse contorno (de rendas?, de nylon?) que ela afaga por cima do tecido das calças, a pele lisa das coxas tem o toque mais precioso de um corpo de mulher (...)»
José Cardoso Pires
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Grandes Autores de Língua Portuguesa
Edição Visão / Dom Quixote
Selecção JL
Nº 3 - O Delfim de José Cardoso Pires
1999,
Herdeiros de José Cardoso Pires e Publicações Dom Quixote
Fotografia do Autor: Luís Vasconcelos
Impressão: Printer, Barcelona Maio de 2003
Visão
Edifício São Francisco de Sales
Rua Calvet de Magalhães, 242, Laveiras
2770-022 Paço de Arcos
Publicações Dom Quixote
Rua Cintura do Porto
Urbanização da Matinha, Lote A - 2o C
1900-649 Lisboa
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Introdução
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O Círculo dos Círculos por Eduardo Prado Coelho
O delfim é o engenheiro Tomás Manuel Palma Bravo. Uma espécie de cognome, entre outros de menor valia e alcance. Mas, sobretudo, uma forma de estar no mundo, uma forma de ficar na história, uma forma de ascender ao plano do mito. Mas O
Delfim é também o título de um romance, este romance que o leitor vai ler, e onde se fala da vida, e da proximidade da morte, de Palma Bravo. Talvez seja conveniente começarmos por chamar a atenção para o facto de que também o romance, o livro de
Cardoso Pires, foi envolvido nessa atmosfera mítica que parece desprender-se do seu aparente herói, e tem hoje um lugar muito nítido, e obviamente privilegiado, na literatura de ficção do nosso século XX. Mais do que procedermos a análises minuciosas, e inevitavelmente fastidiosas na sua tecnicidade