Cultura do medo

1551 palavras 7 páginas
 Cultura do Medo

No Brasil já nos acostumamos às narrativas matutinas dos acidentes de trânsito que ocorreram de madrugada ou no começo da manhã. Cada telejornal tem seu próprio helicóptero para mostrar o caos urbano criado pelos acidentes. Quando o acidente tem múltiplas vítimas, os jornais da tarde e da noite repassam as mesmas coberturas. Na grande maioria das vezes ficamos sabendo que os responsáveis foram motoristas que estavam embriagados, dormiram ao volante ou violaram leis de trânsito.

Parece óbvio que se os motoristas estavam embriagados é porque puderam comprar bebidas livremente, inclusive na estrada. Entretanto, nunca vi um só jornalista brasileiro perguntar ao dono de uma grande cervejaria se ele apoiaria a proibição de venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina. E os donos de redes de distribuição de combustível e bebidas em postos, o que tem a dizer sobre o assunto? Nada enquanto não forem questionados pela mídia.

O silencio da mídia em relação a esta questão pode ser creditada à cumplicidade. A mídia não toca no assunto porque ele não interessa aos políticos, que por sua vez não o consideram importante porque recebem dinheiro dos empresários do setor para permitir que os negócios possam fluir. Ao fluir, os negócios rendem gordas propaganda que são abocanhadas pela própria mídia. E assim a tragédia social se perpetua em benefício de alguns.

Porque os motoristas brasileiros dormem ao volante? Porque gostam de dirigir com sono ou porque são obrigados a realizar jornadas de trabalho estafantes em razão de ganharem pouco? Os donos de transportadores devem ter alguma coisa a dizer sobre o assunto, mas nunca foram questionados ao vivo por qualquer rede de televisão ou jornal de circulação estadual ou nacional.

Seguindo o exemplo do jornalismo americano, o jornalismo brasileiro parece que prefere concentrar-se na tragédia e culpar o motorista. E todo dia um novo motorista culpado se torna peça chave nos jornais matutinos. É

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