Cultura do medo
"(...)E, ao mesmo tempo, a consciência de estar em guerra, e, portanto, em perigo, faz parecer natural a entrega de todo poder a uma pequena casta. (...) Não importa que, de fato, haja uma guerra e, como não é possível uma vitória decisiva, pouco importa que a guerra vá bem ou mal. O que importa é que possa existir o estado de guerra." [George Orwell, 1984]
O filme “A Vila”, de M. Night Shymalan, abre uma abordagem tão ampla, que nos dá margem para discuti-lo e relacioná-lo com vários assuntos atuais. A própria cultura do medo é um deles. A ideia de que o mundo está parecendo muito mais violento do que ele supostamente seria é muito bem trabalhada no filme. A mídia faz-nos seu trabalho de forma exemplar nesse campo; a exposição crua e aberta com que os horrores do mundo nos chegam hoje parece-nos algo espantoso. Diria até apavorante. Os norte-americanos que o digam; a cultura do medo criada por Bush é uma das mais bem maquiavelicamente calculadas que há. Cria-se uma ideia de total terror entre as pessoas, uma situação de verdadeiro pânico a fim de, com isso, manter-se no poder. Algo como: "Vejam os horrores a sua volta. Eu estou fazendo algo para acabar com esse terror que coloca suas vidas em risco. (Logo, votem em mim.)". É exatamente a crítica perceptível em A Vila (e mostrado de uma forma até clara, quando mostra-se a cena das aulas das crianças, que detêm um verdadeiro pavor por um mundo que sequer conhecem. Quando o "professor" começa a falar e a explicar a elas uma determinada situação que ocorrera no local, a partir daí entendemos claramente o motivo do tamanho pavor que elas sentem do desconhecido. Os seres da floresta e a cidade lhes são retratadas de forma horrenda, se assemelhando ao verdadeiro inferno, onde demônios espreitam à procura de suas vítimas...). Muito mais por acreditarem que aquele lugar seja, de fato, um lugar melhor, aquelas pessoas estão alí por medo; medo da idéia de mundo além da floresta que