Crónica Bons Malandros
Crónica dos bons malandros
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Crónica dos Bons Malandros
26ª edição
Quctzal Editores Lisboa/1999
ÍNDICE
1 - A quadrilha
II - Pedro
III - Flávio
IV - Arnaldo
V - Adelaide
VI - Silvino
VII - Renato e Marlene
VIII - Adiamento
IX - Glória e morte
I
A QUADRILHA
Primeiro encontro com Renato, o Pacífico, e sua quadrilha seleccionada.- Marlene,
Flávio, o Doutor, Arnaldo Figurante, Pedro Justiceiro, Adelaide Magrinha e Silvino
Bitoque. Onde se fala também do gaulês Lucien Obelix, que teve fugaz e desastrosa aparição no bando, e de um assalto que iria espantar o mundo
Quem
Ficaram de olhos espetados na porta como se pudessem ver quem estava do outro lado. A campainha tocara por quatro vezes, apressada e suplicante, suspendendo as conversas, o bate-bate dos talheres, até as mandíbulas inertes a meia viagem da mastigação.
“Quem é?...”
“Sou eu, o Silvino!
Era uma voz miada, fininha, um sussurro que encheu a sala, um grito segredado. Os outros respiraram, num primeiro alívio, mas ainda na retranca: bom, era o Silvino, vá lá, mas vinha tarde e trazia fogo no rabo. Em passos de sombra, silencioso e profissional, Renato chegou à porta, abriu-a numa brusquidão sem aviso, e o solicitante, encostado por fora, derramou-se ao comprido no soalho de cera da sala de jantar.
“Onde estiveste? Que andaste a fazer?”
O grupo fitava-o numa mudez inimiga. “Peço desculpa de chegar tarde requereu, mas sabia que as coisas não ficavam assim, iam chateá-lo, armar-se em tribunal, ele a gramar o interrogatório e as fúrias temíveis de Renato,
Renato, o Pacífico, chefe do bando, amigo do coração, mas juiz sem dó em assuntos de serviço.
Recostado e gordo, Flávio, o Doutor, fez então uma coisa rara: falou.
Quando se dava a tão espaçado incómodo, a assembleia apurava o ouvido, sempre o mínimo de palavras para colocar a questão certa e urgente.
“Vinha alguém atrás de ti...”
Era isso, caramba: