Cromofobia
A cromofobia é a tendência em desvalorizar o significado da cor, negando sua complexidade.
É comum confundir o multicolorido com o sem cor ou branco. O problema, portanto, não está no branco, nem nos brancos, mas no branco generalizado, pois este - a brancura - é abstrato, presta-se à contaminação por termos como “puro”.
Mas a oposição entre brancos e pretos não se confunde com a outra grande oposição na narrativa, entre escuridão e luz, ainda que em diversas instâncias um se aproxime da outra.
Para Melville, assim como para Conrad, há uma instabilidade na aparente uniformidade do branco. Atrás da virtude esconde-se o terror; sob a pureza, aniquilação e morte. Para ambos, um dos exemplos mais terríveis da brancura é a silenciosa e taciturna “neblina leitosa”, que é “mais ofuscante do que a noite”. E para ambos, diante de semelhante brancura, a cor parece intoleravelmente, de modo quase ultrajante, superficial.
Esse vácuo faz o autor pensar não em sua brancura. Mas em sua cor.
Se a cor não tem importância, por que é tão importante excluí-la com tamanha violência? Se a cor não importa, por que importa tanto assim eliminá-la?
A cromofobia se manifesta nas inúmeras e variadas tentativas de purgar a cor da cultura, de desvalorizá-la, de diminuir sua significância, de negar sua complexidade. Mais especificamente: esse expurgo da cor costuma ser alcançado de duas formas. Na primeira, a cor é interpretada como a propriedade de um corpo “estrangeiro”. Na segunda, é relegada ao âmbito do superficial, do suplementar, do supérfluo ou do cosmético. Numa, a cor é vista como alienígena e, portanto, perigosa; na outra, é percebida meramente como uma instância secundária da experiência e, portanto, indigna de consideração mais séria.
Eis um bom exemplo de cromofobia, retirado de um livro-texto: “A união do desenho e da cor é necessária à geração da pintura do mesmo modo que a união do homem e da mulher é necessária à geração da humanidade, mas o desenho deve