Crise do México
O colapso de 82 e a "encalacrada" de 94 têm em comum a excessiva dependência do financiamento externo
Autor: Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
Assunto: Economia Internacional
Publicado pela Folha de São Paulo em 08/01/95
Os mercados financeiros tentaram, nos primeiros dias, reduzir a importância da crise cambial mexicana. Agora, depois de anunciado o novo programa de estabilização, a linguagem mudou, passando das palavras de apaziguamento às frases de hostilidade e desconfiança.
O economista-chefe da Daiwa Securities, David Fleming, afirmou com a sutileza de praxe: "o governo do México aprendeu que, no seu processo de abertura para a economia mundial, não pode lutar indefinidamente contra as forças do mercado".
Salvo engano, o governo de Salinas de Gortari não economizou esforços, nos sete anos de seu mandato, para cumprir a agenda que lhe foi passada pelos que se apresentavam como porta-vozes desta enteléquia suprema, o mercado, diante da qual muitos gostariam de se prostrar de joelhos.
Ajuste fiscal drástico, com geração de superávit nas contas públicas, ampla abertura comercial, descompressão financeira e livre movimento de capitais constaram do cardápio, acompanhados de intensa privatização de empresas estatais, da desregulamentação e da eliminação de subsídios e incentivos. O Pacto de Solidariedade constituiu-se na tímida homenagem que as novas virtudes prestam aos velhos vícios.
Da noite para o dia, esta economia exemplar e cumpridora enfiou-se no brejo até a ponta dos cabelos. Tangida pela imprudência de uma persistente valorização da taxa real de câmbio, a economia mexicana escancarou um déficit em conta corrente que se aproximava dos US$ 30 bilhões por ano.
Acumulou, além disso, passivos em moeda estrangeira, no setor público e na esfera privada, que podem chegar a US$ 200 bilhões. Entre estes débitos, os mais problemáticos, a curto prazo, são os Tresobonos que vencem à razão de US$ 700 milhões por