Corpo e Psiquismo
Quando não pensamos profundamente sobre algo aparentemente evidente somos impelidos, com base em nossos vários preconceitos, a julgar que o conhecemos e que nada há que nos induza a pensar mais sobre isso. Assim o nosso corpo: julgamos conhecê-lo detalhadamente, de modo que raramente somos levados a nos perguntar sobre ele. Temos braços, pernas, tronco etc.; sentimos fome, frio, cansaço. Estamos a experimentá-lo a todo o momento, e esse contato e exercício cotidianos ocultam dimensões mais complexa de nossa relação com ele. Como nos relacionamos com o nosso corpo? O dominamos ou nos deixamos dominar por ele? Se o conhecemos tão bem, por que nos sentimos desconcertados ao vê-lo em uma filmagem, da mesma forma como estranhamos ouvir a gravação de nossa voz?
Os filósofos também se debruçaram sobre o modo como nos relacionamos com o corpo. Existem, pelo menos, duas tendências de explicação entre eles: o dualismo, que afirma serem corpo e alma (ou mente *) separados e distintos; e o monismo, que afirma que corpo e alma são na verdade compostos pelo mesmo elemento, por matéria, e que com a morte do corpo morre também a alma.
Dentre os defensores desta última concepção, o monismo, está Epicuro, filósofo grego nascido em 341 a.C., que afirmava que a alma era composta por átomos, assim como o corpo e que, com a morte, tanto os átomos do corpo quanto os da alma se dispersavam na matéria, de modo que após a morte não haveria vida consciente, pois, assim como o corpo, ela tem seus átomos dispersos e já não há mais vida para ela. Não existe imortalidade da alma para os monistas, daí ser infundado o medo da morte:
"Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade"