Conversa sobre terapia
Quem trabalha com a fenomenologia convive com a necessidade de ir direto ao fenômeno tal como se apresenta – ir atrás de seu significado naquele caso especial, único, um significado que pode mesmo contrariar qualquer teoria de psicologia. Fenomenologia não é uma teoria. Contudo, mais importante que se prender a teorias, é voltar-se para o sujeito que estará diante de nós, voltar-se com olhar e mente abertas, voltar-se para ele despido de conhecimentos prévios, que tentem enquadrá-lo, enfim, voltar-se para o fenômeno de ser. Esse é o momento que enriquece e caracteriza a terapia. A terapia sob a ótica da fenomenologia é a possibilidade de dirigir um olhar diferente para a própria existência e, assim, reformular significados, é cuidar da existência de quem sofre, pois ela é fraca por natureza. A postura do psicólogo deve ser de respeito pelo que é fundamental, ou seja, pelo paciente, pelo contexto da sessão de terapia, pelo segredo profissional, e isso não depende das teorias. Porém, precisamos saber o que estamos suspendendo senão estaremos sendo apenas ignorantes. É importante que o profissional que se propõe a tratar de seres humanos não ignore as ciências e os saberes todos que descrevem o homem. Nem seria possível ficarmos livres das teorias, pois somos "ser-no-mundo" e "mundo" e isso já significa um entrelaçamento de referências. Trabalhamos com um referencial básico do pensamento heideggeriano: a compreensão do Dasein, do “ser-aí”, como “ser-no-mundo”, como “ser-com”; como aquele que é chamado em suas possibilidades para realizar sua existência través do “cuidado”, é cobrado por isso e sente culpa; aquele que sonha, faz planos; sabe que é finito e se angustia diante da possibilidade do nada.
Diante do olhar fenomenológico o terapeuta poderá, a princípio, ter uma sensação de desamparo. Depois, o desamparo passará a ser substituído pela surpresa de perceber que uma compreensão começa a preencher o