Contos de murilo rubião
O estudo de uma obra a partir da perspectiva do fantástico pressupõe o estudo do conceito de fantástico e suas delimitações. Na literatura, o fantástico se desenvolve a partir de um certo abandono da racionalidade que por muito tempo imperou com o propósito de explicar o mundo e o indivíduo. O imaginário entra na literatura como uma nova possibilidade de abordagem de elementos inquietantes e inexplicáveis da realidade. De maneira geral, a primeira idéia que se estabelece com relação ao conceito de fantástico é que ele se define em relação aos conceitos de real e de imaginário. Desde o século XIX, foram muitas as definições formuladas, é possível citar como exemplo alguns trechos de textos recentes extraídos da obra Le Conte Fantastique en France de Castex "O fantástico... se caracteriza por uma intromissão brutal do mistério no quadro da vida real" ou "a narrativa fantástica gosta de nos apresentar, habitando o mundo real em que nos achamos, homens como nós, colocados subitamente em presença do inexplicável". Rogger Caillois em Au Coeur do fantastique diz "Todo o fantástico é ruptura da ordem estabelecida, irrupção do inadmissível no seio da inalterável legalidade cotidiana". Dentre tantas definições existentes a esse respeito podemos observar a recorrente citação de elementos como o "mistério", o "inexplicável", o "inadmissível" que se introduz na "vida real", ou no "mundo real", ou ainda na "inalterável legalidade cotidiana". Sendo assim, é possível formular a idéia de que o fantástico se estabelece quando, em uma narrativa, se dá um acontecimento inusitado que aparentemente não pode ser explicado pelas leis naturais mas, no entanto, não deixa descartada totalmente essa possibilidade. A hesitação experimentada pela personagem, e, muitas vezes, por consequência, pelo leitor, diante de um fato insólito é que caracteriza o fantástico. Segundo Tzvetan Todorov é justamente o momento de dúvida entre compreender