A POÉTICA DO DESENCANTO: O PONTO EM QUE CHEGAMOS - Um estudo sobre os contos fantásticos de Murilo Rubião
-Um estudo sobre os contos fantásticos de Murilo Rubião –
Zilmar Silva1
O presente estudo procurou demonstrar a relevância e o pioneirismo do autor mineiro, Murilo Rubião, no quadro da literatura brasileira contemporânea. Sua obra contística se mantém atual por tratar de aspectos comuns da humanidade. A narrativa fantástica de Murilo Rubião pode ser identificada como um reflexo do que parece ser a atitude que mais autenticamente represente nosso próprio tempo. Uma das principais características dessa atitude é a sensação de que antigas convicções e pressupostos básicos com sabor da perenidade imutável de períodos anteriores desapareceram. Experimentados foram desacreditados, posto que falhos. Agora são meras ilusões baratas e pueris. Artigos de brechó.
O mundo também falhou.
O autor mineiro criou, em suas narrativas curtas, um universo intensamente lírico apesar do desencanto com que as personagens são representadas. As existências tendem a suscitar, sistematicamente, incomunicabilidade e solidão. O homem se desencontrou com o mundo. Os relógios não foram ajustados. A sensação de estranhamento motivada pelo insólito das situações, tidas como cotidianas, dissolvem a leitura tranquila, sem reflexão. Murilo Rubião não é lido. Os receptores da sua prosa é que são.
A atmosfera insólita dos relatos é potencializada pela linguagem concisa, coloquial, pelo despojamento estilístico do autor que afirmava reelaborar a linguagem até a exaustão, em uma busca desesperada por clareza. Essa lucidez contrasta com a prosa enigmática dos seus contos.
As situações dos contos da obra analisada são, de fato, imagens paradas. O seguimento do texto não se identifica na ação. É uma especulação assim como a condição humana de suas personagens. Escutamos um estouro vindo do escuro: qual é o significado? Muitas são as hipóteses, porém há uma única possibilidade. É preciso se acostumar com a escuridão. Esperar pela adaptação das