Escritura de murilo rubião
Numa época em que o romance regionalista ainda exerce forte influência na literatura brasileira, Murilo Rubião (1916-1991) surge com uma nova proposta: escrever contos fantásticos. Eram fins dos anos quarenta (1947) quando Rubião conseguiu, finalmente, publicar seu primeiro livro, O Ex-mágico, após ser recusado por oito editoras, assim introduzindo de vez, o fantástico na literatura brasileira. Nascido em Carmo de Minas e criado em Belo Horizonte, Murilo Rubião cresceu cercado de livros, lembrando sempre de ter lido Dom Quixote aos cinco anos de idade, e de ainda na infância, dedicar-se às leituras do Velho Testamento. Aliás, é das páginas da Bíblia que ele retira as epígrafes que acompanham seus contos, e quando questionado por Maria Luiza Ramos, professora da UFMG, como escolhe as epígrafes, ele explica: “É na fase final, (...), que eu começo a procurar uma epígrafe, nas páginas do Antigo Testamento. Essa busca é tão obsessiva, que se a epígrafe não toma forma, a história fracassa” (RAMOS, 2000, p.207). Murilo lembra-se de só ter conhecido o trabalho de Kafka, escritor tcheco adepto da linha fantástico-absurdo, com o qual sempre comparavam seus contos, após a publicação de O Ex-mágico. Seu trabalho já recebeu diversas designações como mágico-absurdo, fantástico-maravilhoso, fantástico-absurdo, realismo fantástico, para citar alguns. Seus contos parecem criar um universo paralelo, um mundo onde as coisas mais absurdas podem coexistir pacificamente com a realidade, porém, diferentemente do discurso maravilhoso, este inquieta bastante o leitor.
Murilo Rubião dedicou-se exclusivamente ao gênero conto e nota-se em seu trabalho uma aguçada lucidez ao recriar a realidade e permeá-la de elementos incomuns, absurdos, estranhos, que parecem aprisionar tanto leitores quanto personagens, num turbilhão de acontecimentos inquietantes dos quais, torna-se impossível escapar, restando a todos, como única alternativa a aceitação do