Contingências da expansão portuguesa
Refletir sobre a fixação portuguesa em Marrocos e as contingências da Expansão Portuguesa no espaço atlântico e no índico em duas ou três páginas, implica necessariamente um estilo que priviligiará a síntese, as frases curtas, escassa fundamentação, e referências historiográficas significativas. Propomo-nos responder a esse desafio tentando transmitir a nossa perspetiva de que a Expansão Portuguesa deve ser explicada e fundamentada desde a época de Afonso III – “quando a criação de mercados, em muitas localidades e em certos dias fixos começou a ser autorizada ou até encorajada (...), toda a vida económica do País, encontrando um apoio estável, recebeu um grande impulso”1. Jaime Cortesão assinala o “movimento do comércio marítimo dos portugueses durante os séculos XIII e XIV”2, lembra que os mercadores portugueses “exerceram, como elemento excitador, importante papel na formação de várias cidades estrangeiras”3, sublinha o tratado de comércio entre Portugal e a Inglaterra em 1353, acrescenta que a vinda de estrangeiros para Portugal ocorreu em consequência da importância dos negócios dos portugueses estabelecidos “em boa parte dos grandes empórios comerciais da Europa”4, para concluir que durante todo o século XIV se assistiu a “uma tendência para o fomento e a expansão marítima na política do Estado”5. Ou seja, no entender de Cortesão, e apesar de algumas críticas de outros historiadores6, os primórdios da expansão encontram-se muito antes de Marrocos e remontam ao século XIII. O que impulsionou os portugueses a Ceuta parece residir numa “mistura de fatores religiosos, económicos, estratégicos e políticos”7. O espírito da reconquista e a guerra aos infiéis, as dificuldades financeiras e o desejo do ouro da Guiné, o mitológico reino do Preste João, e a procura das especiarias do Oriente aparenta terem sido os “quatro motivos principais que