contextualização
Procura mostrar o intemporal lado destrutivo da natureza humana, evocando através da imagem o sofrimento associado à guerra.
É um quadro profundamente expressivo e um sentimento de luto percorre esta obra dorida pintada a preto, branco e cinzento. A postura das mãos, os braços estirados, as bocas abertas e os olhos esbugalhados expressam o horror da morte.
O poeta cria no leitor a sensação de que descreve a imagem como se a tivesse diante dos olhos.
O eu poético contem pormenores impressionistas: a farda suja de sangue do jovem soldado morto, o seu olhar sem vida, a cigarreira, o lenço branco.
O poeta descreve a cena como um retrato, longínquo da mãe e da pátria do jovem soldado morto que arrefece e que em breve entrará em decomposição. A cor branca da pele, o cabelo louro, o olhar parado a fitar «os céus perdidos» remetem para as relações iniciais do afastamento da terra natal, dos entes queridos. Focaliza os objetos pessoais: a «cigarreira breve», o «lenço branco», objetos de forte carga afetiva, símbolos de um ciclo de vida tão subitamente interrompida.
Uma leitura simbólica poderia reenviar o leitor para a experiência dramática do poeta ao passar da sua infância adolescência para a vida adulta. Estaria Fernando Pessoa, que “perdera” a mãe há tão pouco tempo, a manifestar-se no jovem soldado morto?