Construção da nação brasileira
AZEVEDO, Lílian H. de
A construção da nação, no caso brasileiro, foi antes o movimento ideológico empreendido pelos expoentes de nossa elite intelectual à época da implantação e posterior consolidação do regime republicano, na virada do século XIX para o XX. Para os homens que passaram a ocupar o poder era necessário construir um povo novo, uma nova mentalidade, extirpar os resíduos burocráticos sedimentados por séculos de comando estrangeiro. Era necessário fazer parte da história do mundo, seguir os bons exemplos das Revoluções Francesa e Norte-Americana, ainda que houvesse divergências sobre o que deveria ser de fato aproveitado ou deixado de lado sobre cada uma delas. Na historiografia brasileira o assunto foi tratado, por exemplo, por autores como José Murilo de Carvalho em Formação das Almas1 e Renato Ortiz, em Cultura Brasileira e Identidade Nacional2, cujas linhas gerais me deterei ao longo desta exposição.
Carvalho centra suas atenções na batalha empenhada por grupos de intelectuais na elaboração de estratégias de manipulação do imaginário social, incluindo as camadas inferiores da população. Tal empreendimento foi uma tarefa reconhecidamente complicada ao se pretender ilustrar mentes que, no mínimo, não sabiam ler devido à baixa ou nenhuma instrução. Para buscar contornar essa situação, lançaram mão do uso de imagens, alegorias, mitos e símbolos, muitos dos quais importados da França – barrete frígio, ilustrações femininas representando a república. Quanto aos símbolos locais, notadamente a imagem de Tiradentes, numa alusão clara ao símbolo máximo do cristianismo, o próprio Jesus Cristo.
Por meio desses elementos, argumenta, é possível atingir a alma das pessoas pois, por seu caráter difuso e pela compreensão mais direta devido a sua natureza menos codificada de como se faz representar, constituem-se elementos poderosos de projeção de interesses, aspirações e medos coletivos. Esse imaginário de que