Constituição
Páginas 1 e 2
Nesta deliciosa e entrigante obra “O Capote”, o autor russo Nicolai Gogol nos faz emocionar com o relacionamento de um homem com seu casaco, atentando-nos a narrativa tão bem detalhada que nos provoca sensações de tristeza, revolta, alegria e medo nas cenas vividas pelo seu protagonista. É também assim que Gogol faz uma crítica severa ao instinto humano de pré-julgar.
Em uma repartição servia um funcionário distinto, de estatura baixa, com rugas nas duas faces e rosto, morava em Sampeterburgo. Akaki Akakiévitch era o nome desse funcionário dessa repartição, é possível que o leitor considere este nome um pouco estranho e pretencioso, mais não é assim: ele foi-lhe posto nas circunstancias mais naturais e é fácil ver que não poderia ter sido outro. Akaki, palavra grega que significa, sem prefixo de negação, maldade. É um nome de cunho religioso que esta entre os dez mais comuns entre monges ortodoxos do oriente.
Akaki Akakieévitch nasceu na noite de 23 de março. A sua defunta mãe, esposa de um funcionário, muito boa mulher, dispôs das coisas para que o menino fosse batizado segundo as praxes, seu padrinho chamava-se Ivan Ivanovitch e sua madrinha Arina Semenovna Bielobriuchkova, esposa de um oficial e mulher de extraordinárias virtudes. O menino foi batizado.
Quando teria sido colocado na repartição e quem o teria nomeado são coisas que ninguém se recorda. Todos os diretores e chefes da repartição que por lá passavam, viam-no sempre no mesmo lugar na mesma posição e com a inalterável dignidade de um burocrata que compulsa requerimentos. Ao vê-lo poderia julgar-se que assim nascera neste mundo, completamente burocratizado, de uniforme e calvo.
Ninguém na repartição o respeitava. O porteiro não só não se levantava à sua passagem como nem sequer se dignava a lançar-lhe um olhar. Os chefes aproximavam-se dele com uma frieza autoritária. Qualquer ajudante de chefe de secretaria metia-lhe um ofício debaixo do nariz sem lhe dizer sequer