CONCEPÇÃO MEDIEVAL DO HOMEM
Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e SociaisA concepção cristão-medieval do homem
Pelotas
2014
Introdução
A concepção cristão-medieval do homem prevalece na cultura ocidental do século VI ao século XV, mas seu influxo permanece profundo e decisivo nas concepções moderna e contemporânea que lhe sucederam.
Trata-se de uma concepção teológica, mas os instrumentos utilizados na sua elaboração, provém da filosofia grega.
A concepção procede de duas fontes: A tradição bíblica e a tradição filosófica grega.
Portanto, nasce assim, num terreno onde as duas grandes tradições tecem um complexo trama conceitual, na qual veremos a seguir em suas grandes linhas.
Concepção Bíblica Do Homem
A concepção bíblica é formulada na linguagem religiosa da revelação. Há nela um discurso sobre o homem que se supõe ter origem numa fonte transcendente. Esse discurso contém uma teologia implícita, ou seja, uma referência à sua origem como fundamento de sua verdade, referência que se tornará explícita quando transporta em conceitos e métodos próprios do pensamento filosófico.
A unidade radical do ser do homem é pensada não numa perspectiva ontológica, mas soteriológica, e ela se desdobra em três momentos:
Uma unidade de origem, expressa nos temas da criação, da queda e da promessa, presentes nos primeiros capítulos de Gênesis.
Uma unidade de vocação, expressa no tema da aliança que percorre todo Antigo Testamento e se consuma evento do verbo feito carne no Novo Testamento.
Uma unidade de fim, expressa no tema da vida, na presença de Deus (antigo testamento) e da vida em Deus (novo testamento).
O homem é “carne” (basar) na medida em que se revela a fragilidade de sua existência, é alma (nefesh) na medida em que se a fragilidade é compensada pelo vigor da vitalidade, é espírito (ruah), ou seja, manifestação superior da vida, pela qual o homem pode entrar em contato com Deus, é coração (leb), ou seja, o interior profundo do homem,