Dawe
Alan Dawe 1
Numa exposição rápida, a compreensão pode fazer com que se atribua à sociedade medieval maior coerência e consistência, como entidade, do que realmente tinha, e fazer com que o longo, arrastado e fragmentado processo de sua desintegração pareça mais súbito e dramático do que realmente foi. Mesmo assim, por mais lento, desigual e fragmentado que tenha sido, o colapso do medievalismo constituiu um total rompimento histórico entre um mundo e outro, com o qual não será exagero dizer que todas as formas de pensamento social ocidental se vêm relacionando desde então. A totalidade do rompimento é evidenciada pela sua cósmica inversão da concepção do indivíduo, cuja história semântica foi traçada, com muita oportunidade para os nossos propósitos aqui, por Raymond Williams:
“Individual” significa, no pensamento medieval, “inseparável”... Lentamente, e com muitas ambigüidades, desde então, aprendemos a pensar no “indivíduo em si mesmo”, quando antes falar nele era dar um exemplo do grupo de que era membro.
Essa inseparabilidade entre a pessoa e o grupo reflete muito bem o padrão de vida na aldeia medieval típica. Era uma comunidade fechada e estática, não-penetrada por idéias novas, não-afetada por nenhum tipo de movimento, não-sujeita a qualquer mobilidade geográfica e social. A vida era tão regular e previsível quanto as estações do ano. Era uma comunidade pequena, onde todos se conheciam e onde, portanto, tudo o que uma pessoa fazia era do conhecimento de todas as outras. Era uma comunidade na qual a vida, desde o nascimento até a morte, era vivida em público, e, portanto, não havia nem mesmo a possibilidade de se conceber a distinção entre as dimensões pública e privada da vida, que é parte tão grande da moderna concepção do indivíduo. Além disso, era também uma comunidade não-diferenciada, na qual todos dependiam do grupo para a realização de todas as suas necessidades.