Como tornar suas ideias claras
Charles S. Peirce
Tradução de António Fidalgo, Universidade da Beira Interior
1. Clareza e distinção (388 a 393)
Peirce apresenta as noções da Lógica que lhe serão objetos em sua explanação, a saber, as seguintes noções: clareza, obscuridade, distinção e confusão.
Peirce oferece com mais detalhes a noção de ideia clara. Dessa forma, diz ele que “uma ideia clara é definida como uma que é apreendida de tal forma que será reconhecida onde quer que se encontre, de modo que nunca será confundida com outra. Se esta clareza faltar, dir-se-á então que é obscura”. No entanto, esta definição não satisfaz Peirce o qual exige uma maior clareza. Para ele, apenas “ter a certeza” de que apreendemos uma ideia com a simples posse ou com o poderio do olhar parece-lhe ser uma pretensão ou mesmo uma ilusão utópica tendo em vista a realidade que nos cerca, e que talvez, os lógicos, na verdade, tenham querido dizer outra coisa, isto é, que essa apreensão tem mais a ver com certa familiaridade com a ideia. Contudo, mesmo assim, ou seja, mesmo que esta ideia nos pareça familiar, há ainda que ser complementada, ainda é preciso que além da clareza haja também a distinção. Tal engano, segundo Peirce, se deve a um sentimento subjetivo de nossa parte. Percebemos, com isso, um significativo golpe desferido contra o sujeito e a sua subjetividade que, como disse anteriormente, perde o seu status principal com a Filosofia da linguagem. Portanto, neste parágrafo, a definição de ideia clara, os seus problemas e a sua relação com a questão da subjetividade se mostram mais abertos aos que o leem.
Passando para o próximo parágrafo, este se ocupará agora da definição de ideia distinta. Sobre ela, diz Peirce que “Uma ideia distinta é definida como uma que não contém nada que não seja claro”. Numa primeira aproximação, esta definição parece se confundir com a anterior, pois o seu critério ainda se estabelece com as muletas da noção de clareza, mas se