Comentário sobre o filme “ o lixo extraordinário”
Pode-se medir o índice de desenvolvimento de um país a partir do que a sua respectiva população produz como lixo. Nas cidades, quando o lixo passa a ser consumível por outras pessoas sem que haja danos à saúde, em tese, trata-se de um país desenvolvido, onde pouco ou quase nada do consumido nas residências deveria de fato ser considerado não mais aproveitável. No Brasil, constata-se diariamente cidadãos que vivem na rua e do lixo que os sustenta. Contudo, estas pessoas, ao contrário da teoria dos países desenvolvidos, estão em situação de extrema miséria, visto que os resíduos produzidos aqui, em sua grande maioria, para nada mesmo servem. Assim como essas pessoas tiram seu sustento do lixo, também os catadores dos grandes lixões sobrevivem a partir do extraído das montanhas de resíduos, como papel e garrafas pet, as quais são compradas por baixos preços em cooperativas e revertem algum dinheiro para os catadores. Essa é a realidade mostrada no documentário Lixo Extraordinário, do artista plástico Vik Muniz. No intuito de usar a arte como arma de denúncia social, Muniz vai ao lixão, juntamente com a sua equipe, para trazer às telas as pessoas que são esquecidas pela sociedade, mas que existem, possuem história, vida e sustentam-se com o que não mais queremos. Não há como negar o cenário triste retratado no documentário, todavia, é inegável também, apesar das condições perigosas do trabalho, que o sorriso largo não abandona os rostos dos catadores do lixão, qual o desejo de uma vida melhor continua a habitar em suas almas. É vergonhoso saber que, em nosso país, existem pessoas mantendo a sua sobrevivência com o que lhes oferece o lixo, evidenciando o quanto nossa sociedade
estratificada é perversa e desigual. Enquanto alguns se desfazem do indesejado, outros buscam nisso a força motriz para a vida.