Comenius
O primeiro impulso ao iniciar este texto foi intitulá-lo: "Comenius – um cidadão da Europa". Tal título obrigaria a definir os conceitos envolvidos e a caracterizar a "Europa" em que o autor referido (que viveu entre 1592 e 1670) se moveu, se formou, e a qual lhe serviu de contexto e referência para a construção do seu sistema de pensamento. Mas, mesmo por outra via, a este assunto voltaremos no desenrolar deste trabalho.
O título escolhido serve no entanto dois outros objectivos. Permite justificar a inclusão de um autor do século XVII num número da Millenium dedicado à internacionalização do ensino e, por outro lado, obriga à análise do papel de tal conceito no pensamento do autor.
Aliás, se quiséssemos escolher títulos para atribuir a Jan Amos Comenius não nos faltariam fontes de inspiração. Bastaria fazer um ligeiro levantamento dos que já lhe foram atribuídos e seleccionar o mais adequado. Como meros exemplos, podemos citar os seguintes:
Profeta da moderna escola democrática (Abbagnano)
Pai da educação moderna (Hawkins)
Evangelista da Pedagogia moderna (Michelet)
Príncipe dos professores (Keatinge)
Bacon da Pedagogia (Compayré)
Galileu da Educação (Michelet)
Mestre das Nações (Teacher of Nations) (T. Masaryk)
Um patriota cosmopolita (Bovet)
Cidadão do mundo (Leibniz)
Apóstolo da colaboração internacional em educação (Piaget).
Nas diversas perspectivas em que a sua vida e a sua obra têm sido olhadas, diferentes autores e estudiosos põem em destaque as suas realizações enquanto filósofo, educacionalista, educador, reformador, professor, linguista, teólogo e didacta, mas quase todos realçam o facto de ele ter trabalhado pela cooperação, esclarecimento e compreensão educacional, científica e cultural.
Este facto, como veremos, decorre tanto da lógica intrínseca do seu sistema de pensamento, como da vida que ele viveu. Duas vias diferentes o terão levado a conclusões semelhantes.
Piaget (1957) diz expressamente que "podemos compreender