Coerção, Capital e Estado
Bernardo Bianchi Barata Ribeiro é doutorando em Ciência Política no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Seria despropositado apontar, passados vinte anos desde que foi publicado pela primeira vez nos EUA, em 1990, a magnitude do esforço depositado por Charles Tilly em Coerção, capital e estados europeus (990-1992)[1]. Mais do que simplesmente enriquecer o estudo da formação dos Estados europeus a partir da interpretação das vicissitudes e tensões que atravessaram suas rotas de constituição, Tilly procurou desmitificar estes processos constitutivos. Talvez a sua mais importante contribuição consista justamente em desnaturalizar o desenvolvimento das formas atuais dos Estados europeus, que tampouco podem ser percebidas como o resultado inelutável de um imperativo histórico qualquer. Do mesmo modo, Tilly rejeita a análise hegemônica e ingênua que toma a Grã-Bretanha e a França como sendo trajetórias-padrão de formação dos Estados europeus; tudo o mais não passando de caminhos pedregosos e marginais. Afinal, trata-se de levar a sério a enorme variação, no tempo e no espaço, dos tipos de Estados que povoaram a Europa nos últimos séculos. Mas semelhante consideração não pode tapar o sol com a peneira, pois sabemos, do mesmo modo, que os Estados europeus, por mais diversificados que possam ter sido no passado, acabaram por convergir em variantes de uma mesma forma: o Estado nacional (Tilly, 1996, p. 50).
Tilly não achata toda esta variedade de Estados que retalharam durante séculos o mapa da Europa sob uma trajetória uniforme em direção aos atuais Estados nacionais. Sua análise é muito mais prospectiva do que retrospectiva, como bem o afirma Karl Monsma (Charles Tilly, p. 25). E esta não é uma constatação banal. Conforme adverte o próprio Tilly,
A lição é clara. Usar a força do século XX como o principal