Coalizão ou Transformação
Vamos partir da leitura do livro A esquerda que não teme dizer seu nome (São Paulo, Três Estrelas, 2012) escrito por Vladimir Safatle e acabar aportando em questões candentes dos dias de hoje.
O livro é muito bom, consegue ser sucinto e bastante provocativo — deveria ser adotado nas Escolas para a formação política dos jovens. A julgar por vídeos da rede, a grande maioria da população não sabe o que é ‘ser de esquerda’.
Para o autor: “a função atual da esquerda é mostrar que o esvaziamento deliberado do campo político é feito para nos resignarmos a um modelo de vida social que há muito deveria ter sido ultrapassado” (p. 15).
Entre 1973 e 1995 o PIB dos Estados Unidos (por habitante) subiu cerca de 36%, na onda Thatcher e Reagan, enquanto que o salário da maioria dos empregados caiu 14%. Isso mostra um forte movimento de concentração de riqueza.
Essa informação é utilizada para ressaltar a tendência tão própria do capitalismo, levando diretamente ao aumento da desigualdade — assim como o papel das esquerdas na construção de políticas voltadas para enfrentar o problema…
Políticas essas que só podem ser institucionalizadas pelo Estado — e que estão intrinsecamente ligadas ao que o autor classifica como categoria fundante do pensamento de esquerda: a defesa radical do igualitarismo.
A outra perna do conceito é a soberania popular — melhor dizendo, a ‘democracia por vir’, a construção gradativa e persistente dos mecanismos de ausculta da sociedade, transferindo poder, inventando sistemas de participação.
Muitos outros ângulos e questões vão sendo apresentados e discutidos ao longo do texto: a fricção entre democracia e ordenamento jurídico, o desafio de escolher o que deverá ser escolhido, ser um enunciador crível para as camadas populares, a construção de uma saudável indiferença com relação às diferenças e por aí vai.
Mas, talvez, a questão mais atual e candente venha das primeiras páginas, a avaliação do Brasil nos últimos anos.