Cidade religiosa

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Coloquemo-nos, pois, em pensamento, no seio dessas antigas gerações, cuja lembrança não pode desaparecer inteiramente, ao legar as suas crenças e as suas leis às gerações seguintes. Cada família tem a sua religião, os seus deuses e sacerdócio. No isolamento religioso temos a sua lei; o seu culto permanece secreto. Mesmo na morte, ou na existência que se segue à morte, as famílias não se confundem: cada família continua a viver à parte no seu túmulo, de onde se exclui todo estranho. Cada família tem também a sua propriedade, isto é, a sua parte de terra, que lhe está inseparavelmente agregada pela religião: os seus deuses Termos guardam-lhe o recinto e os seus manes velam por ela. O isolamento da propriedade torna-se de tal maneira obrigatório que dois domínios não podem confinar um com o outro, devendo deixar entre si uma faixa de terra que a ninguém pertencesse e ficasse inviolável. Enfim, cada família tem o seu chefe, como qualquer nação teria o seu rei. Tem as suas leis, sem dúvida não escritas, mas gravadas pela crença religiosa no coração de cada homem. Tem a sua justiça interna, superior à qual nenhuma outra há para que se possa apelar. Tudo aquilo de que o homem tem rigorosa necessidade para a sua vida material, ou para a sua vida moral, a família possui. Não precisa de coisa alguma de fora; a família é um Estado organizado, uma sociedade que se basta a si própria.
Mas esta família do mundo antigo não se reduzia às proporções da família moderna. Nas grandes sociedades a família desmembra-se e diminui, mas na ausência de qualquer outra sociedade estende-se, desenvolve-se, ramifica-se, sem se dividir. Muitos ramos mais novos ficam agrupados em redor do ramo mais velho, junto do lar único e do túmulo comum.
Outro elemento ainda entrou na composição desta família antiga. A necessidade recíproca que o pobre tem do rico, e o rico do pobre, criou os servos. Mas nesta espécie de regime patriarcal servos ou escravos formam um todo. Concebe-se, com efeito, que o

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