Chartier e o Iluminismo
Proponho-me no texto que segue analisar qual foi o possível propósito em relacionar intrinsecamente a Revolução Francesa ao iluminismo e como tal vinculação foi viabilizada pelos próprios revolucionários.
Pretendo para isso, utilizar-me de alguns autores que participam do movimento de revisão historiográfica, iniciado na década de 70 do século XX, influenciados, naquele momento, pela História Cultural que estimulava a utilização de outros recortes históricos por meio da ampliação das fontes, que viabilizassem a identificação de matizes que por vezes ficaram relegadas ao esquecimento em uma perspectiva essencialmente política ou econômica da história.
Com isso em mente, tais autores lançam-se ao objetivo de reconsiderar os pilares que sustentaram a Revolução Francesa. Pretendo utilizá-los na expectativa de levantar questionamentos acerca da narrativa tradicional sobre a Revolução que se cristalizou no imaginário social.
Problematização da relação entre Iluminismo e Revolução
Parto das proposições feitas por Chartier1 nas quais o foco principal é o desmonte de um imaginário cristalizado que estabelece entre o Iluminismo e a Revolução Francesa, uma relação de causalidade. Segundo o autor, “sob quais condições é legítimo estabelecer um conjunto de idéias e fatos difusos e díspares como “causas” ou “origens” de um acontecimento? ”2. Dessa maneira, Chartier atenta para o perigo de uma historiografia que lê os eventos a partir de uma lógica teleológica. De acordo com Neto3, a busca por uma causa desconsidera a dialética que é própria ao termo origem, sendo que esta origem de um evento, não se refere especificamente a uma gênese, mas sim, ao seu processo.
Identificar as origens de um acontecimento pressupõe que uma análise retrospectiva dos fatos seja feita. Parte-se do que se sabe no presente para assim tentar concatenar os eventos como tributários de uma origem comum. Esta seleção despreza a diversidade de realidades que