Caso Genie
Na medida em que o ser humano se desenvolve, aprimoram-se também suas relações com o meio no qual suas experiências cotidianas e resiliências são articuladas. Partindo dessa premissa, devem-se considerar os traços fisiológicos e mentais como coautores de danos ao desenvolvimento humano ótimo, tema desta análise. O documentário “O segredo da criança selvagem”, nessa perspectiva, é analisado nos próximos parágrafos pelo viés das principais teorias que abordam a temática supracitada.
Genie, personagem-tema do documentário da BBC produzido no ano de 1992, foi abordada pela mídia e pela ciência da época como um ser humano imune até então de influências e interferências externas. Segundo o documento, em 4 de novembro de 1970, em Los Angeles, o serviço de assistência social local encontrou uma menina de 13 anos, submetida à condições de maus-tratos e abusos pelos pais. Seu mundo se resumia a um quarto escuro, sentada em uma cadeira, na companhia de um berço que utilizara quando criança. “Genie apresentava o aspecto de uma criança, usava fraldas, fazia sons de bebê e era quase incapaz de falar e andar... era uma criança selvagem, não civilizada e que era caracterizada pelo silêncio”.
Nota-se, no contexto, a prevalência das ideias de Piaget, para o qual “o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas" (Piaget, 1976 apud Freitas 2000:64). Isso exemplifica que o processo evolutivo da filogenia humana tem origem biológica, que por sua vez é ativada pela ação e interação do homem com o meio - físico e social - que o circunda (Coll, 1992; La Taille, 1992, 2003; Freitas, 2000). Isso significa que as formas primitivas da mente, biologicamente constituídas, reorganizam-se, numa relação interdependente entre o sujeito que