carvenas
M.de Montaigne (1533-1592)
Refugiado na torre
"A glória a que aspiro é a de ter vivido tranqüilo [...] em sendo a filosofia incapaz de mostrar o caminho que conduz ao repouso da alma que a todos convém, que cada qual por seu lado o procure." - M. de Montaige - EnsaiosMorria-se cedo no século XVI. Basta-nos percorrer com os olhos os trípticos de Jeronimus Bosch, que faleceu em 1516, para termos idéia das fobias dos homens daqueles tempos. Suas telas carregadas de demônios, monstros, animais estranhos, pássaros fantásticos, gente metade bicho, bicho metade gente, revelavam um medo mórbido das pestes, da guerra e do sobrenatural. Não é pois de estranhar que Michel Eyquem, senhor de Montaigne, um castelo no Périgord, no interior da França, ao alcançar os 37 anos de idade e sendo acometido de problemas provocados por cálculos renais, só tivesse a morte como expectativa. Cansado dos labores públicos, vendeu seu cargo de magistrado em 1570 e retirou-se para sua propriedade, enfurnando-se na biblioteca que ficava no terceiro andar de uma torre arredondada, junto ao castelo da sua família. No frontão da porta constava o lema Liberdade, tranqüilidade, ócio, princípio aos quais tratou de seguir. Na alta sociedade daqueles tempos o ócio produtivo, intelectual, era uma atividade que não envergonhava nenhum nobre. Montaigne também manifestou-se emocionalmente esgotado com a guerra civil entre católicos e huguenotes que grassava pela França. Dando as costas a todas aquelas confusões, dedicou-se a escrever.
O relato do indivíduo
Castelo de Montaigne (gravura Cl. Bulloz)Exausto do mundo, passou a viver só para si, tornando-se personagem do seu próprio interesse (sendo repudiado mais tarde por Pascal exatamente por isso). É de Jacob Buckhardt, o grande historiador da cultura da Renascença, a idéia de que foi por aquele época, pelo século XV-XVI, que o Homem deu lugar ao Individuo, isto é o Homem descobriu a sua singularidade, o seu ineditismo. Um ser