Cartas a um jovem terapeuta

1932 palavras 8 páginas
CAPÍTULO I
Para ser um bom psicoterapeuta, é útil que a gente possua alguns traços de caráter ou de personalidade que, dito aqui entre nós, dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação: melhor mesmo que eles estejam com
Você desde o começo.
Pois bem, se, por alguma razão (que não precisa ser a mesma do meu pai), é.
Importante para você se alimentar no reconhecimento e no agradecimento infinito dos outros, então não escolha a profissão de psicoterapeuta.

Acreditar no médico que nos prescreve um remédio ‘ não é tudo, claro; ainda é preciso que ele prescreva o remédio certo. Mas é bem provável que, para quem acredita em seu médico, aumentem as chances de que o remédio prescrito seja eficaz, de que o paciente não caia na percentagem estatística dos que (sempre existem) não obtêm efeito algum com o remédio.

Nenhuma psicoterapia, seja ela qual for, deveria almejar a dependência do paciente. Como disse antes, na psicoterapia, o terapeuta funciona um pouco como o remédio. Ora, transformar a confiança inicial numa eterna admiração e gratidão seria como substituir uma doença por uma toxicomania: você não tem mais pneumonia, mas tem uma necessidade visceral de tomar e venerar antibióticos. Ou, ainda, seria como curar um alcoolista tornando-o heroinômano.

1) Um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam de você.

2) Uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito.

Você poderia perguntar: mas será que não há condutas que eu posso julgar
Desprezíveis, encaminhe para outro terapeuta que talvez tenha limites diferentes.

O quarto e último traço que gostaria de encontrar no futuro psicoterapeuta é uma boa dose de sofrimento psíquico. Desaconselho a profissão a quem está “muito bem, obrigado”

Mesmo assim, na hora de empurrar, é difícil, para o terapeuta, respeitar a direção apontada pelo desejo do paciente, ou seja, é difícil não achar

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