carta a um jovem terapeuta
VOCAÇÃO PROFISSIONAL
Meu jovem amigo, Imagino que você ainda não tenha decidido qual será sua profissão. Você estaria procurando neste livro alguma indicação para descobrir se quer mesmo se tornar psicoterapeuta. E estaria perguntando: antes de começar uma formação que vai durar no mínimo uma década e custar uma nota preta, será que há como saber se tenho o que é preciso para dar certo?
É uma ótima pergunta. Para ser um bom psicoterapeuta, é útil que a gente possua alguns traços de caráter ou de personalidade que, dito aqui entre nós, dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação: melhor mesmo que eles estejam com você desde o começo.
Um exemplo, só para começar.
Meu pai era médico, internista e cardiologista, mas funcionava, para muitos de seus pacientes, como o médico da família. A cada ano, no Natal, na Páscoa e no dia de São José (ele se chamava Giuseppe), nossa casa se enchia de presentes.
Mas enchia mesmo: a sala era abarrotada de caixas de vinhos e liquores, panetones, doces, cestas de frutas exoticas, sem contar a prataria e os objetos variados de decoração, as canetas, as agendas e os conjuntos para escrivaninha. Nos últimos dias antes da festa, a campainha não parava de tocar.
Nós, crianças, tínhamos a função e o privilégio de abrir os pacotes, deixando cuidadosamente os cartões que os acompanhavam, para que meu pai pudesse responder agradecendo.
Pois é, se eu tivesse escolhido a profissão de psicanalista e psicoterapeuta para receber a mesma variedade e fartura de presentes, minha vida seria um fracasso.
Você pode querer ser médico ou coisa que o valha porque é essencial para você ser olhado com gratidão e respeito por seus pacientes e pelos outros em geral.
Claro, todo o mundo gosta disso, não é? Mas há sujeitos para quem é crucial ser constantemente o objeto de uma veneração amorosa.
Quer saber por quê? Pense, por exemplo, no olhar de uma mãe para um caçula que teria nascido depois da morte do