Resumo-cartas a um jovem terapeuta
VOCAÇÃO PROFISSIONAL
Resumindo, meu jovem amigo que pensa em ser terapeuta, se você sofre, se seus desejos são um pouco (ou mesmo muito) estranhos, se (graças à sua estranheza) você contempla com carinho e sem julgar (ou quase) a variedade das condutas humanas, se gosta da palavra e se não é animado pelo projeto de se tornar um notável de sua comunidade, amado e respeitado pela vida afora, então, bem-vindo ao clube: talvez a psicoterapia seja uma profissão para você
QUATRO BILHETES
Bilhete 1
Lida a minha primeira carta, você me pergunta se, então, não haveria nenhum “desvio” (apreciei as aspas) que impediria que um sujeito se tornasse psicoterapeuta e acrescenta: “Poderia um travesti ser psicoterapeuta ou psicanalista? E você iria num ou numa terapeuta travesti?’. Pois é, eu escolheria um analista em que tivesse confiança. As razões dessa confiança seriam provavelmente imponderáveis e, eventualmente, irrisórias: desde a recomendação de um amigo até a decoração do consultório, passando por uma contribuição decisiva do terapeuta à última enciclopédia de bridge ou por algo que ele ou ela disse ou escreveu em matéria de psicanálise.
Bilhete 2
A objeção à idéia de um terapeuta pedófilo existe, mas é de outra natureza. A fantasia do pedófilo é propor ou impor seus desejos a um sujeito que mal entende o que está sendo feito com ele e com seu corpo. É uma fantasia de domínio e sobretudo de domínio pelo saber.
Claro, no começo de uma terapia ou análise, o paciente sempre supõe que seu terapeuta saiba muito mais do que ele, sobretudo em matéria de desejo e de sexo. Justamente, espera-se de uma terapia que ela não transforme essa suposição numa dependência crônica. Ora, é exatamente o que acontecerá se o terapeuta se servir da suposição inicial do paciente para realizar sua própria fantasia sexual, ou seja, se ele, propriamente, encontrar seu gozo na suposta supremacia de seu saber. E, se o terapeuta for