Cap iv normalidade, responsabilidade e psicopatologia
Maurício Knobel*
Ao estudar a Adolescência é necessário um cuidado especial para evitar atitudes preconceituosas, verdadeiros “estereótipos” do mundo adulto que embaçam a visão correta da pessoa nesse período da vida, e considerar que ainda alguns profissionais e cientistas desta etapa da vida não a consideram como um verdadeiro estágio, com características bem definidas do processo evolutivo. Em muitos de meus trabalhos sobre “adolescência” destaquei que se trata de uma fase especial e específica do desenvolvimento humano. A observação de adolescentes e a opinião dos adultos nas mais diversas culturas, a conduta ou as condutas, deste grupo etário é considerada como “semi-normal” ou “semi-patológica”, e isto já constitui um bom motivo para adentrarmos nos estudos tanto comportamentais quanto cognitivos e psicodinâmicos da fase “adolescente” do ser humano. Fazem já mais de trinta anos fiz a proposta de considerar o que denominei a “Síndrome da Adolescência Normal” (Knobel, 1962; Aberastury e Knobel, 1992). Posteriormente, esta definição psicodinâmica e cognitiva apareceu para nós como o resultado lógi* Professor emérito pela UNICAMP. Professor de Psiquiatria Geral da Infância e Adolescência. - Membro Efetivo da IPA.
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David Léo Levisky
co da elaboração de ‘lutos’ próprios desta fase evolutiva. Assim, o luto pela “infância” perdida através de lutos pelo corpo infantil perdido na família e na sociedade e o luto pelos pais da infância que já não mais realmente existe, necessitam ser elaborados. (Aberastury e Knobel, 1992; Aberastury, Knobel e Rosenthal, 1972). Elaboração de lutos só pode ser feita quando o sujeito, de qualquer idade, passa por estados depressivos. Na adolescência, também observamos este processo, só que, devo acrescentar aqui, que considero que por estes mesmos motivos, os adolescentes vivem numa depressão constante, aparentemente muitas vezes mascarada e,