Cade
por Reinaldo Polito
Virou moda. De uns tempos para cá, para melhorar o resultado de suas apresentações, alguns palestrantes resolveram pôr em prática os "modernos" conceitos da interatividade. Só que na cabeça deles ser interativo é ficar enchendo a paciência dos ouvintes e em algumas circunstâncias até humilhar quem está na platéia. Com pequenas alterações a cena se desenvolve mais ou menos assim: o doutor sapiência chega diante do público e começa a fazer perguntas como se estivesse comandando um interrogatório. Geralmente inicia com um rápido comentário sobre o tema, para estabelecer contato mais próximo com o auditório e esclarecer sobre o assunto que será discutido, dizendo, por exemplo, vamos ver o que vocês entendem por marketing. Em seguida inicia a fase das execuções. Olha bem nos olhos da vítima sentada na primeira fileira e sem nenhuma sutileza formula a pergunta: - O que é marketing para você? O ouvinte, meio sem jeito, arrisca uma tímida resposta tentando se lembrar dos conceitos aprendidos na faculdade, ou em algum livro de administração para não administradores. O palestrante faz aquela cara de quem já esperava tamanho despreparo e sentencia: nãnaninanã, não é nada disso não. Volta-se para outro ouvinte sentado lá no fundo da sala e repete a mesma pergunta. E depois de ouvir a resposta, mais uma vez com ar quase impaciente, mas ao mesmo tempo triunfante, passa o mesmo veredicto. E assim, sem dó nem piedade vai executando vítima por vítima, que ali indefesas, constrangidas, diante de colegas da mesma empresa, ou da mesma profissão, sem ao menos ter chances de recorrer às cartas, às placas ou aos universitários, vão sucumbindo e se desmoralizando. No final, depois de repetir meia dúzia de vezes a mesma pergunta, que são acompanhadas do mesmo número de respostas e de igual quantidade de nãnaninanãs , o algoz projeta uma colorida e sofisticada tela com o conceito que julga ser a