Butler e a desconstrução de gênero
Butler e a desconstrução do gênero
Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade.
BUTLER, Judith P.
Tradução de Renato Aguiar.
Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 2003. 236 p.
Dito de forma muito resumida, Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade desconstruiu o conceito de gênero no qual está baseada toda a teoria feminista. A divisão sexo/ gênero funciona como uma espécie de pilar fundacional da política feminista e parte da idéia de que o sexo é natural e o gênero é socialmente construído. Essa é a premissa que Judith Butler problematizava no livro, primeiro da autora traduzido no Brasil (foi lançado nos Estados Unidos em 1990) e ainda hoje reconhecido como sua obra mais importante. Discutir essa dualidade foi o ponto de partida para que a pensadora questionasse o conceito de mulheres como sujeito do feminismo.
O par sexo/gênero foi um dos pontos de partida fundamentais (talvez fosse melhor dizer fundacionais) da política feminista. O desmonte da concepção de gênero seria o desmonte de uma equação na qual o gênero seria concebido como o sentido, a essência, a substância, categorias que só funcionariam dentro da metafísica que Butler também questionou. Assim como Derrida desmontou a estrutura binária significante/significado e a unidade do signo,1 e fez com isso uma crítica à metafísica e às filosofias do sujeito, Butler desmontou dualidade sexo/ gênero e fez uma crítica ao feminismo como categoria que só poderia funcionar dentro do humanismo.2 Para refletir sobre os efeitos dessa desconstrução, é fundamental entender desconstrução não como desmonte ou destruição.3 Repensar teoricamente a “identidade definida” das mulheres como categoria a ser defendida e emancipada no movimento feminista parece ter sido a principal tarefa de Butler. O problema que ela apontou foi o da inexistência desse sujeito que o feminismo quer representar.
Esse era um debate acadêmico