Do feminismo a judith butler
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Do Feminismo a Judith Butler
Conferência, Ciclo “Pensamento Crítico Contemporâneo”, Le Monde Diplomatique / Fábrica Braço de Prata, 5 de Abril de 2008
Miguel Vale de Almeida
MIGUELVALEDEALMEIDA.NET
2008
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Curso Pensamento Crítico Contemporâneo Le Monde Diplomatique / Fábrica Braço de Prata 5 Abril 2008
Do feminismo a Judith Butler Miguel Vale de Almeida
0. Em primeiro lugar quero agradecer o convite e dizer que me dá um grande prazer participar numa iniciativa autónoma de aprendizagem colectiva e promoção do pensamento crítico. Em segundo lugar gostaria de chamar a atenção para o facto significativo – e já na linha do tema de hoje – de Butler ser a única mulher contemplada neste ciclo; e uma mulher assumidamente lésbica, facto que permeia o seu pensamento. Em terceiro lugar, não sou filósofo e deparo-me muitas vezes, ao ler textos como os de Butler, com as mesmas dificuldades de compreensão que muitos de vós. O que retiro de Butler traduzo-o à luz das minhas preocupações, que são simultaneamente antropológicas e emancipatórias. Também por isto convém deixar claro que não sou um “Butleriano” e que o que aqui vou fazer não é uma defesa “da minha dama” (atitude que ela certamente detestaria...); discordo inclusive de algumas ilações práticas e políticas que ela – e muitos dos seus seguidores e até fãs – retiram das suas reflexões. Mas como há uma diferença entre, por um lado, as condições reais em que nos movemos para a mudança e, por outro, a obrigação da reflexão crítica mesmo que vá contra os nossos desejos,
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Butler é incontornável no pensamento e na acção em torno do género, da sexualidade e dos sujeitos destas realidades e movimentos.
1. Os seus livros mais conhecidos – Gender Trouble (Problemas de Gênero, 1990) e Bodies That Matter (Cuerpos que importan, 1993) – são representativos daquilo que ela busca na totalidade da sua obra: compreender a formação da identidade e da subjectividade. A sua interrogação do Sujeito é