BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo

BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII (vol. II). São Paulo: Martins Fontes, 1996. (Cap. 1).

As divisões do espaço e do tempo na Europa

O capítulo pretende especificar como as economias-mundo se estabeleceram quanto ao espaço e o tempo, destacando os desdobramentos das realidades econômicas e sociais. Dois conceitos são importantes: economia mundial e economia-mundo.
“A economia mundial estende-se à terra inteira: representa, como dizia Sismondi, ‘o mercado de todo o universo’, ‘o gênero humano ou toda aquela parte do gênero humano que faz comércio e hoje constitui, de certo modo, um único mercado” (BRAUDEL, 1996, P. 12).
“A economia-mundo [...] envolve apenas um fragmento do universo, um pedaço do planeta economicamente autônomo, capaz, no essencial, de bastar a si próprio e ao qual suas ligações e trocas internas conferem certa unidade orgânica” (BRAUDEL, 1996, P. 12).
Tal economia-mundo tinha como grande objetivo transpor as fronteiras políticas e culturais, somando-se, assim, aos seus atuais territórios, novos espaços, cada qual, individualizado. É possível se fazer uma tipologia das economias-mundo, com regras que definem as suas relações com o espaço. Relações estas tão significativas quanto aos seus limites territoriais. Tudo em prol do benefício de uma cidade dominante, o centro capitalista. A soma das economias particulares define o espaço. Economias, por vezes pobres e modestas, mas que juntas tem por finalidade enriquecer o centro. A formação de desigualdades assegura o funcionamento da economia mundo.
Os limites de uma economia-mundo são bem definidos. Uma economia-mundo termina onde começa outra. “[...] por isso, como regra geral, as fronteiras das economias-mundo se apresentam como zonas animadas, inertes” (BRAUDEL, 1996, P. 16, 17). A formação de tais economias-mundo na Europa serviu de preparação para a dominação além do Atlântico. Vencer o espaço hostil da Europa, foi