bestializados
(ou, como o Brasil virou Brasis)
Resenha do livro “Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”
O livro “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi” de José Murilo de Carvalho retrata os primeiros anos da República no Brasil e o singular processo de distanciamento entre o mundo político e a sociedade civil. O autor nos mostra que, contrariando a expectativa de renovação política e participação das classes menos favorecidas, no Rio de Janeiro – então capital do Brasil – o entrosamento entre o novo regime político teoricamente democrático e o povo foi mínimo, e que na prática não houve quase nenhuma interação entre representantes e representados. Destarte, a República não teria dado certo porque, assim como na independência, a nação não esteve presente ou, como diz Aristides Lobo em uma passagem citada no livro, o povo teria assistido bestializado todo o movimento republicano.
Tal processo de transição do Império – que vivia um momento de grande popularidade devido à abolição da escravidão – para a República, se deu através de uma quartelada protagonizada pelos militares que, ressentidos pela falta de participação política e de reconhecimento após a campanha contra o Paraguai, elevou o Marechal Deodoro da Fonseca ao posto de primeiro presidente do Brasil. O curioso foi que sem um projeto para o país, os militares entregaram-no aos imperialistas, que refizeram a constituição aos moldes constitucionais vigentes até então, que por sua vez, eliminaram do Estado a obrigação de fornecer educação ao povo.
Esse movimento, então, se apresenta como um ótimo exemplo para a análise das relações entre governo e cidadãos. Relações que tiveram nas tradições escravista e colonial um enorme obstáculo para conquista da cidadania, tendo de um lado os burocratas e do outro os grandes proprietários rurais e seus interesses econômicos.
Nesse novo cenário político que acabara de se estabelecer, o canal de comunicação