Assédio sexual e cultura brasileira
Quando pensamos na cultura brasileira, vêm-nos à mente algumas de suas características mais marcantes:
a sinuosidade; a linguagem com entrelinhas; o erotismo e a sensualidade expressos nas vestimentas, na música, na dança e nas conversas ambíguas; a busca de intimidade, a mania de tocar o outro, a informalidade, a confidência fácil; a saída ou os escapes do “deixa-disso”.
Nós, brasileiros, somos mais do contorno que do confronto, somos mais dos atalhos que das linhas diretas, somos mais das saídas silenciosas que da voz que alardeia o escândalo, o que, às vezes, significa “simplesmente abafar o causo”, “fingir que não viu”. Esses escapes, na verdade, mascaram a velha estratégia da omissão, que pode ser nada mais que uma roupa mais bonita para a conhecida covardia.
Por outro lado, a nossa veia sensual aprecia uma piada e uma conversa com uma dose de malícia ou gosto picante; a nossa musicalidade verbal e corporal divertese com um gingado cheio de graça e sinuoso; as referências eróticas na nossa linguagem diária e a beleza sensual de nossas danças divertem-nos. Achamos que, em princípio, todo mundo pode cantar todo mundo, desde que receba a negativa, se ela vier, com esportividade, que a pessoa saiba perder e se retirar de campo sem alarde, sem ressentimentos. Enfim, podemos dizer que a sociedade brasileira, ainda que machista, não é puritana e temos até orgulho de acariciar uma pequena ousadia, pensando, como na música de Chico Buarque e Ruy Guerra, que “não existe pecado do lado de baixo do Equador”.
Esses atributos dos filhos e filhas das terras brasilis fazem-nos duvidar se a moda do politicamente correto norte-americano pegaria aqui com força. Certamente, a versão brasileira é muito, muito mais suavizada. O conceito de assédio sexual nos Estados Unidos é bem mais amplo que aqui. Lá, por exemplo, um olhar pode caracterizar uma tentativa de assédio e gerar um processo judicial. Impensável, na