as crises das ciencias sociais
IVO TONET*
A
firmar que as ciências sociais estão em crise é mais ou menos um lugar-comum. Porém, as interpretações mais correntes desse fenômeno, bem como as soluções propostas estão, ao nosso ver, profundamente equivocadas.
Qual a raiz deste equívoco? A resposta a esta pergunta será a preocupação central desse texto.
No entanto, esta resposta não pode ser buscada examinando diretamente as diversas interpretações da crise. Essas serão apenas tomadas como ponto de partida para mostrar como os equívocos das interpretações têm como pressuposto uma relação problemática entre consciência e realidade, entre as idéias e a realidade objetiva, entre subjetividade e objetividade. E que essa compreensão problemática da relação decorre do viés gnosiológico pelo qual ela é tratada.
A crítica deste equívoco nos levará a mostrar como uma abordagem ontologicamente fundada da relação entre subjetividade e objetividade é o caminho mais adequado para o equacionamento e a solução da problemática da crise das ciências sociais. Em resumo, pretendemos evidenciar que a crise destas ciências, que é parte de uma crise maior da racionalidade e, mais amplamente ainda, da própria forma atual do ser social, não é compreensível, nas suas determinações mais essenciais, se abordada em chave epistemológica, mas apenas numa perspectiva ontológico-prática.
1. O estado da questão
Como dissemos acima, é praticamente um consenso a constatação de que as ciências sociais atravessam uma crise de graves proporções. Sem embargo da diversidade de interpretações quanto às causas, ao conteúdo e às soluções deste problema, cremos que, excetuando as de caráter ontológico, há alguns elementos comuns a todas elas. Essas interpretações partem da constatação de que houve uma profunda mudança — econômica, política, social e ideológica — do século XIX para o século XX, especialmente na segunda metade deste último. Esta mudança resultou em transformações de tal