Artigo Quando O Ambiente Hostil
GT 25: VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E SEGURANÇA
QUANDO O AMBIENTE É HOSTIL
Prof. ª Dr. ª Lúcia Leitão
QUANDO O AMBIENTE É HOSTIL
XII Congresso Brasileiro de Sociologia
Belo Horizonte, 31 de maio a 03 de junho de 2005.
Prof. ª Dr. ª Lúcia Leitão1
[...] la manière dont nous modelons notre environnement est l´expression de notre propre état d´âme.” Alexander Mitscherlich
RESUMO
O objetivo do texto ora proposto é mostrar como a casa-grande, centro da organização social do
Brasil patriarcal, espaço essencialmente privado, repercutiu na configuração urbanística da cidade brasileira. Trabalha-se com a hipótese de que o nascimento desprestigiado da rua —o espaço público por excelência— no Brasil colônia, e mesmo no Império, produziu um ambiente hostil, com repercussões sócio-espaciais ainda pouco consideradas pelo urbanismo brasileiro. As referências teóricas vêm da sociologia gilberteana (Sobrados e Mucambos, 1936) e da psicanálise.
Nesta, considera-se o conceito de identificação (Freud, Psicologia das massas e análises do eu,
1920-21) e a idéia de ambiente hostil de Mitscherlich (Psychanalyse et urbanisme, 1970). Sob essas referências, argumenta-se que, edificada em torno do espaço privado —cuja manifestação atual são os shopping centers e os condomínios fechados contra a rua, à semelhança da casagrande— a cidade brasileira ainda não construiu o seu espaço público, circunstância que favorece a manifestação da violência que assola o país. Conclui-se o texto argumentando que o modo como produzimos e como usufruímos a cidade constitui-se num elemento importante quando se busca enfrentar a questão da violência em suas múltiplas e complexas faces.
INTRODUÇÃO
Sob o foco do urbanismo, busca-se mostrar, com este texto, como e em que medida a cidade no Brasil tem produzido, desde sempre, um espaço edificado claramente hostil. O mote para a construção do argumento que ora se desenvolve vem da escrita gilberteana, notadamente Sobrados e