ARTIGO CORPO E IMAGEM
Corpo e imagem: alguns enredamentos urbanos 1
O texto destaca sentidos do urbano associados a representações do corpo, enfatizando os seus potenciais vínculos com a arquitetura e a apropriação simbólica do espaço herdado. Como norte analítico, propõe a experiência urbana estimulada pelo capital financeiro, que sustenta o predomínio da imagem sobre o discurso; acelera disputas em torno da informação; garante a centralidade da moda como emissora de valores; introduz especializações profissionais e saberes técnicos na projeção, quase paradigmática, de presenças sociais na cena urbana. O destaque de alguns destes processos permite o reconhecimento da reflexividade que condiciona, atualmente, tanto as práticas de consumo quanto o protesto urbano.
“Não vês as folhas das árvores, Aurel? Não vês que ainda há um mundo ao redor de nós? Se o que vês a olho nú não te agrada, podes cegar-te.
Embora, para mim, isso seria o mesmo que blasfêmia” (Jostein
Gaadner, p. 152).
Breve introdução
A hegemonia do capital financeiro, na atual fase do capitalismo, encontra-se articulada a transformações no ritmo da vida urbana, na composição das atividades econômicas, nos códigos de conduta, nos agenciamentos da sociabilidade, nas percepções da saúde e da doença e, com especial intensidade, nas representações do belo. Como reconhecido por tantos analistas, acentuaram-se, nas últimas décadas, o individualismo e o consumismo, ao mesmo tempo em que mudanças nos mecanismos de convencimento e coerção, que sustentam a hegemonia econômica e política
(Macchiocchi, 1976), alteraram a percepção do corpo, inscrevendo-se em leituras da experiência urbana.
A crise de acumulação dos anos 70 materializou-se como crise urbana, trazendo a dissolução de códigos comportamentais, expectativas coletivas e formas de sociabilidade. As saídas para estas duas crises, que conformam um único conjunto de mudanças nas relações sociedade - espaço, foram encontradas num produtivismo
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